2.10.19

inversos


tantos eus
recantos de contos
nudez
marcas de perfis
laçadas
pontas lúdicas
fluxos
traços de luz
contas
tantas no entanto
dígitos
pálidos atritos
línguas
notas indecisas
lícitas
universos sem fim
pontos de nós
fios
inversos de mim.

sabado sem cura

há um verso se insinuando em mim
o verso conversa
cutuca
maltrata
desperta suspiros
debochado
enfia as unhas
na minha seriedade
me mostra o corpo
embrulhado em outro corpo
corta meus pulsos
e me promete delicadezas
este verso é um grão de mostarda
cresce anormal
espinho na carne
sem nenhuma promessa de cura
sem nenhuma possibilidade de poesia
só um sábado frio e de mau humor
chove
não há guarda-chuva que me faça boa companhia.

plantações

durante anos
plantaram cadeados
em meus sonhos e ideais
sobrevivi
à falta de amanhãs
plantando no imaginário
um campo de mandacarus
em cada raiz
uma chave para minha resistência
e a liberdade de cultivar espinhos e heróis
hoje mato meus dragões com a colheita de versos.