12.4.19

o pão nosso de cada dia


todos os dias
caminhava para a morte

o corredor era sempre o mesmo
:
abundância de fardas 
risadas
palavrões
o eco dos gritos espalhando-se no nada

não havia mais sustos
a dignidade vivia na ponta das armas 
bater em mulher
era o gozo 
a distração 
a garantia do soldo

como quem derrama café quente nas coxas
imaginava
as manchas nas calças
e aquele sabão que prometia limpeza total

qualquer imagem servia para fugir 
à realidade do cheiro podre do sadismo
escorrendo junto ao sangue 
pelo cano da arma
e a absoluta falta de esperança 
tirando o chão

havia um abismo entre a dor e os livros de moral e cívica.