olho
o menino cruzar a esquina
-
eternamente -
em
sua bicicleta de uma roda
um
rosto cheio de pelos trovoa:
-
onde estão seus peitos?
olho
meu corpo
preparo
um grito habitado pelo susto
:
não há peitos
o
vermelho dos meus cabelos
cobrem
tornozelos e pés
o
grito fica preso nas algas que me invadem
olho
em volta
a
cidade coberta pelo musgo do tempo
escorrega
e desmancha-se em gosma de algas
o
homem à minha frente
dentes
de ouro a deslumbrar janelas
equilibra-se
ao som de wagner
fujo
na bicicleta de uma roda
agora
sou eu a girar girar girar
até
a engrenagem se enroscar nos cabelos
e
me espalhar pelo chão
escuto
botas ao meu redor
continências
nazistas
o
modo como me apontam
parece
tiro à queima-roupa
seus
reflexos fantasmagoram a cidade
e
me afundam lentamente
no
caminhão pipa verde-amarelo
de
túnica e estrela na testa
ando
sobre águas ao encontro do salvador.