13.4.19

no fio da esperança

há anos uma menina foi arrancada do peito
não houve tempo para tirar-lhe o cocar
ficou a despedida cantada por um rouxinol
e os anos a ninar o vazio do abraço
nos últimos meses choram curumins*
:
vermes
febre amarela
desnutrição
os médicos se foram
ficaram os olhos cada vez maiores
o chão coberto de folhas secas
enfeitados de camucis*
que a cada dia
explodem lágrimas em coração de mãe
escolas já não há
índio não carece estudar
o programa é de extinção
escrita na lama
que secou as águas e os bokas*
do watu*
última salvação dos orgulhosos krenaks*
ontem uma barraca foi montada do lado de lá do rio morto
um antigo cocar de duras penas
enfeitava o estetoscópio sobre um jaleco de esperança..